“O homem é o único animal que ri” - Aristóteles
Transcrevo abaixo um trecho de um artigo cujo título (e conteúdo) me inspirou para a escolha da imagem que ilustra o meu post de hoje: Análise do conceito de fealdade aristotélica
Pontuando o contexto em que Aristóteles comenta acerca da “fealdade” em sua obra “A Poética”, encontramos-la num trecho em que o estagirita teoriza a respeito das causas que geram a poesia. Segundo ele, como a poesia é uma arte imitativa, essa deve sua origem a uma tendência natural do homem, acentuada por ele em duas causas: “O imitar é congênito, no homem [...] e os homens se comprazem no imitado” . E é aí que entra o conceito de “fealdade” que queremos utilizar como referência de nosso trabalho. Pois, segundo Aristóteles, os homens se comprazem não só no belo, mas, principalmente, no feio: “Sinal disto é o que acontece na experiência: nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnância, por exemplo, as representações de animais ferozes e de cadáveres” .
Portanto, segundo o estagirita, as coisas que ao serem contempladas imediatamente nos parecem feias e repugnantes, quando mediadas pela representação artística, tornam-se aprazíveis e agradáveis, fazendo assim uma dissociação entre a fealdade d a coisa em si (a realidade retratada) e a arte (regras artísticas).
(POR UMA ESTÉTICA DO FEIO - uma aplicação do conceito de fealdade aristotélica à realidade social atual) de autoria dos professor Dr. Marcos Roberto Nunes Costa e seus alunos Carlos Alberto Pinheiro Vieira e Ricardo Evangelista Brandão da Universidade Católica de Pernambuco.
Trecho de “Por que ler os clássicos?”, de Ítalo Calvino:
Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual. (...)
O clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber), mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro (ou que de algum modo se liga a ele de maneira particular). (...)
É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo.
Trecho 1 de Vidas Secas:
O coração de Fabiano bateu junto do coração de Sinha Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram a fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava. Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afasta ndo pedaços desonho. Sinha Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.
Abraçou a cachorrinha com uma violência que a descontentou. Não gostava de ser apertada, preferia saltar e espojar-se. Farejando a panela, franzia as ventas e reprovava os modos estranhos do amigo. Um osso grande subia e descia no caldo. Esta imagem consoladora não a deixava. O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-se para não magoá-lo, sofria a carícia excessiva. O cheiro dele era bom, mas estava misturado com emanações que vinham da cozinha. Havia ali um osso. Um osso graúdo, cheio de tutano e com alguma carne.
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