Por que se posicionar
Quando comecei a estudar Letras tinha uuma noção limitada da política. Limitada pelo véu de um Partido, de uma estrutura arcaica para encontrar respostas na atualidade. Dediquei-me a aprofundar meus conhecimentos em Marx e no meio do caminho tropecei em Freud. Comecei a compreender que mais que amarras evidentes, a transformação esbarra em amarras invisíveis - a ideologia.
Hoje concordo com Marx e compreendo quea ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. Concordo com Freud que o inconsciente torna a realidade impossível de ser captada na íntegra, perfeitamente. Neste ínterim, como saber o que é real, o que é retórica, o que é ilusão?
Me apropriei de dois conceitos fundamentais: a paráfrase e a polissemia. Interpretamos o mundo a partir da linguagem: daí Marx compreender a Teoria como elemento mediador entre a consciência do sujeito e a realidade. Teoria pode ser entendido como linguagem. E a linguagem se assenta numa oposição entre signos estáveis e repetidos - a paráfrase e símbolos instáveis e móveis - a polissemia.
Num exemplo prático, quando pensamos no MST temos de um lado símbolos que o interpretam como negativo e outros que o interpretam como positivo. Os primeiros se sobrepõe aos demais devido a luta de classes: os grupos que detém a divulgação da informação (a mídia, a escola, as instituições do estado, as instituições privadas) impõem sua leitura de mundo como se fosse a única a todos os grupos, e o fazem porque são incapazes de perceber a contradição e a possibilidade do novo.
Nesse sentido, todos ficamos com signos que mais ferem, que enaltecem determinados grupos e determinadas interpretações de mundo. A ideologia nos impede, por vezes, de observar que estamos afetados por ela quando pensamos sobre o mundo. Mas como ela é falha, há sempre possibilidade de propor interpretações outras, não-estáveis e por vezes radicalmente diferentes das interpretações estáveis da sociedade. É assim que me posiciono. Observe as interpretações, proponho o contraditório e faço sempre a opção de ficar no pólo oposto da escola tradicional, das instituições e sobretudo da imprensa. Apóio o MST, apóio as lutas políticas e apóio toda e qualquer manifestação que contraponha o status quo. Esse sentido de político pode ser levado ao cotidiano e se livrar das necessidades partidárias, que por vezes, não fazem mais que reproduzir a ideologia da classe dominante. Seja na hierarquização de estruturas, seja na imposição de pensamentos únicos e de interpretações falhas como se fossem as únicas possíveis. Um outro mundo é possível... Qual? Não sei bem, mas outras realidades se abrem a partir de agora...