O futebol e a leitura tática do torcedor
Toda vez que chego num estádio de futebol percebo os milhões de treinadores espalhados pelo Brasil. Como corinthiano, recentemente, vejo a torcida nas arquibancadas xingando o Tite em cada substituição ou quando os adversários resolvem se impor no campo de defesa corinthiano.
Creio que a maioria tenha seus motivos pra xingar o treinador alvinegro, afinal, há jogos e momentos de jogos em que o time parece apático, lento e parece aceitar a pressão adversária. Mas também creio que a maioria dos torcedores seriam incapazes de entender a tática presente no jogo, como algo dinâmico, que se modifica com o passar do cronômetro e de adversário para adversário. Também creio que sejam incapazes de perceber fatores ocasionais, imprevistos, ou o papel do acaso, já chamado por Nélson Rodrigues de “Sobrenatural de Almeida”.
Quando sento no tobogã, no Pacaembu, costumo prestar atenção nestes eventos, já que a distância da bateria das organizadas me impede de acompanhar irracionalmente os gritos e cânticos que me são muito mais importantes, naqueles 90 minutos, que qualquer outro papel desempenhado pela torcida. Afinal, o que, na condição de torcedor posso fazer a não ser incentivar? Algo que aprendi ainda moleque e que me faz ver o futebol com olhos menos extremistas e profundamente apaixonado. Acho ainda, em concordância com o professor Wisnik, em seu brilhante ensaio Veneno Remédio, da Cia das Letras, lançado em 2006, que a maioria dos torcedores/cometaristas é viciado nos elementos externos do jogo, mas entende pouco ou faz pouco esforço em entender as quatro linhas. Tarefa essa dura, árdua e que exige um olhar metódico e apurado, diante de tantas variáveis. Analisar o futebol passa por um conhecimento empírico, mas também teórico, que se aproximaria da ciência, ou no limite, da análise estética, artística.
Vou citar um caso, para tornar minha argumentação mais clara. Num Corinthians e Botafogo, no Pacaembu, o Corinthians jogou muito mal. Tomou dois gols no primeiro tempo e o Botafogo recuado, garantiu o placar. O Corinthians teve 70 minutos para conseguir o empate, mas não o fez por merecer. Pra mim por dois motivos: tomou dois gols logo após a substituição de Fabio Santos, e o lateral substituto Ramon, tomou duas bolas nas costas, porque mal posicionado. Não diria que é culpa do treinador um lateral se posicionar mal. Mas também, não diria que a culpa é individual, porque entrar em uma partida, exige tempo para que a compreenda, sinta os lances, a dinâmica específica que se dá naquele momento. É natural que entre perdido.
Segundo ponto tem a ver com a baixa competência de Tite, para modificar o time em circunstâncias específicas de jogo. Caio Júnior recuou os volantes que ganhavam todo o rebote no campo de ataque corinthiano, o que ocasionou seguidos contra-ataques, até sair os dois gols. Numa escorregada do lateral corinthiano (acaso) saiu o primeiro gol dos cariocas. O problema seria corrigido mais facilmente recuando dois atacantes, dos três que estavam em campo. O Botafogo minou a principal arma do time alvinegro: marcação sob pressão nos minutos iniciais das partidas, com Ralf e Paulinho, quando se joga em casa. Ou seja, Tite não conseguiu combater uma intervenção tática do treinador adversário. Mas se estou certo, e tenho dúvidas, vi isso há léguas de distância, no ponto mais alto, em que toda a movimentação se desenha: plano vertical. No plano horizontal, do treinador, além do calor das emoções, tal análise se torna mais difícil.
No segundo tempo, Tite inverteu Alessandro com Ramon. O que supriu a marcação naquele setor, e que impôs a expulsão do lateral (excelente lateral) Cortez. Mas não foi o suficiente para mudar a partida, já que com 8 jogadores atrás da linha da bola, somente jogadas individuais e de habilidade seriam eficientes. O que não é a característica do Time de Tite.
Na próxima postagem, pretendo falar sobre Corinthians e Avaí e na seguinte sobre Corinthians e Atl. Paranaense. Dois jogos em que prestei a atenção nas movimentações táticas das equipes.
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