Estesia
Percepção sensação impressão expressão... Somos um pequeno grupo de amigos empenhados em reagir a alguns estímulos; a idéia é registrar uma reação como um flash despretensioso, registro provisório do que, provavelmente, não chegará a conhecer forma mais consistente ou duradora. Um amontoado de esboços que nunca verão arte-final.
sábado, 29 de setembro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
menino extemporâneo
escrevo
o teu nome em cadernos antigos
assim
eu invento
uma
outra idade para nós.
E
nesse tempo de ainda inocência
podemos
nos olhar e sorrir
quem
sabe até lhe mostre
desenhos
que fiz na contracapa
e
você confesse que escreve um diário
Na
verdade, é muito fácil
Bastou
teu nome num caderno antigo
E eu
sorrio novamente
E
você, menina, me abraça
Por
isso, eu nunca me desfiz
desses
cadernos velhos e ainda lembro
desse
seu nome que se escreve pelo tempo
pra
sorrir de vez em quando
pra
sorrir, menino, nos seus braços.
2000/2012
anestesia
absorto
alguns segundos talvez
anestesia
estarei morto algum dia
podia ser assim
depois, o sangue volta a correr.
e o coração, de novo compassado,
volta a cumprir sua função operária.
Distenciono a musculatura,
em leves movimentos um tanto desordenados,
relaxo o maxilar
e engulo a espessa saliva que me enchia a boca
engolir minha própria saliva
é como ser amamentado pela primeira vez
sabe-se que é preciso sugar e engolir
tem gosto de estar vivo
gosto de voltar
gosto de voltar depois daquela pequena morte
com o gosto ainda
apegado aos dentes
gosto liso? amargo? Impreciso?
Gosto de outro corpo
Impregnado ao céu da boca
Aos poucos sinto o corpo, meu corpo.
Sinto frio, medo, saudade - estou vivo.
Meu corpo quer de novo
Aquele gosto de aspirina
Aquele cheiro de terra molhada
Que era o corpo dela suado
E me lembro dela
Escorregando sob os lençóis
Oleosa, psciforme, esquiva.
Quando, com algum, esforço a alcançava
Prendendo-a, com os braços,
Rente ao peito,
Até sentí-la pulsando, bicho acuado,
avezinha caçada
Agora te contemplo
E teu corpo
Estirado, tão próximo,
parece um despojo de guerra
Não sei se o venero
Ou se o jogo aos cães
Esse cheiro que sai do teu corpo
Depois que agente se acalma
Ora me chama ora me expulsa
Não sei se ânsia ou repulsa
isso que sai do teu sexo e me amarra:
as pernas, o sonho e os braços.
Isso que me tapa a garganta
Agora dormes
Mas inda ouço os teus grunhidos
Aqueles teus soluços à hora do gozo.
Estavas rindo ou chorando?
Estavas longe ou vindo?
Outras amarão melhor
Mas você se move como um bicho
E urra, e geme, e berra
Às vezes, uma cabra
Às vezes, um golfinho
Gosto da cadela nas noites de lua cheia
E
dos gemidos repetidos, compassados, espremidosOUT/2007
olhando pra trás
Quando você foi embora
Fiquei triste
Triste como um posto de gasolina
Sob a fina chuva da madrugada
Nem as luzes envelhecidas
dos postes que circundam a lagoa
acenavam pra mim
voltei pra casa como quem foge de medo
tranquei as portas como quem corre perigo
e tomei o café – preto e noturno –
das noites brancas e ruidosas,
o café da azia e da gastrite,
tomei-o a goles largos
e permaneço acordado
percebendo-me sozinho
sentado na minha sombra
e pensando no que não há
noites de lençol e lágrima.
SET2009
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Pequenos trejeitos
Olhos, cabelos, movimentos
Coisas que conheço
Tremor nos lábios,
Segredos
Reinventam meu susto
Familiares rastros
de um antigo recomeço.
Ainda que inventada, creio
Ainda que não a veja, crio
E sob a blusa, a pele adivinho
Vencida a distância, o hálito, o cheiro,
o calor, o corpo trêmulo
prenuncia o toque
contato
avisem
as luzes,
conclamem
a tempestade,
ela
está em meus braços.
(Welington Fernandes)