intertextualidade
A idéia era, em princípio mencionar a semelhança entre
dois belos sonetos: o 1º de Góngora (Luis
de Góngora y Argote (Córdoba, 11 de Julho de 1561 - Córdoba, 23 de Maio
de 1627) e o outro do nosso baiano Gregório de Matos (Salvador, 23 de dezembro
de 1636 — Recife, 26 de novembro de 1695). Daí fui procurar por uma tradução e
encontrei duas. No entanto, cada uma me agradava por um motivo (e desagradava por
outros). Por isso, resolvi tomar a liberdade de recortar as duas e montar uma
terceira. Fica por conta dos leitores escolher dentre uma das três ou criar uma
quarta.
Texto 1: original de Luis de Góngora
Mientras
por competir con tu cabello
Oro bruñido al sol relumbra en vano,
Mientras con menosprecio en medio el llano
Mira tu blanca frente al lilio bello;
Mientras a cada labio, por cogello,
Siguen más ojos que al clavel temprano,
Y mientras triunfa con desdén lozano
Del luciente cristal tu gentil cuello,
Goza cuello, cabello, labio y frente,
Antes que lo que fue en tu edad dorada
Oro, lilio, clavel, cristal luciente,
No sólo en plata o vïola troncada
Se vuelva, más tú y ello juntamente
En tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
Oro bruñido al sol relumbra en vano,
Mientras con menosprecio en medio el llano
Mira tu blanca frente al lilio bello;
Mientras a cada labio, por cogello,
Siguen más ojos que al clavel temprano,
Y mientras triunfa con desdén lozano
Del luciente cristal tu gentil cuello,
Goza cuello, cabello, labio y frente,
Antes que lo que fue en tu edad dorada
Oro, lilio, clavel, cristal luciente,
No sólo en plata o vïola troncada
Se vuelva, más tú y ello juntamente
En tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
Texto
2: 1ª tradução – Delson Tarlé
Enquanto, a
competir com teu cabelo,
o ouro
brunido ao Sol reluz em vão
e, pálido
de inveja, quedo ao chão,
perde-se a
contemplar-se o lírio belo,
e o rubro de
teus lábios deixa em zelo
mais olhos do
que o cravo temporão,
e o colo altivo
traz um ar loução
como o cristal
luzente aspira tê-lo;
goza lábios,
cabelo, colo albente,
antes que
tudo, em tua idade alada
- ouro, lírio,
cristal, cravo rubente -
não só se acabe
em prata e flor crestada,
mas tu e a tua
vida, juntamente,
em terra,
em fumo, em pó, em sombra, em nada.
Texto 3: 2ª
tradução – Anderson Braga Horta
Enquanto por ombrear com teu cabelo
ouro brunido o Sol relumbra insano,
enquanto com desprezo em meio o
lhano
mira tua alva fronte ao lírio belo;
enquanto a cada lábio, por colhê-lo,
seguem mais olhos do que ao cravo
ufano,
e com desdém triunfa soberano
do cristal claro o colo teu singelo;
goza colo, cabelo, lábio ardente,
antes que o que na idade foi dourada
lírio, cravo, cristal, ouro luzente
não só em prata ou víola truncada
se torne, mas tu e isso juntamente
em
terra, em fumo, em poeira, em sombra, em nada
Texto 4: Tradução-Colagem
– com base em trabalho alheio
Enquanto, a
competir com teu cabelo,
o ouro brunido
ao Sol reluz em vão
e, pálido de
inveja, quedo ao chão,
perde-se a
contemplar-se o lírio belo,
enquanto a cada lábio, por colhê-lo,
seguem mais olhos do que ao cravo
ufano,
e com desdém triunfa soberano
do cristal claro o colo teu singelo;
goza colo, cabelo, lábio ardente,
antes que tudo,
em tua idade alada
lírio, cravo, cristal, ouro luzente
não só se acabe
em prata e flor crestada,
se
torne, mas tu e isso juntamente
em terra, em
fumo, em pó, em sombra, em nada
obs: embora se perca o esquema de rimas entre os quartetos, o resultado (me parece) mais bonito que nas duas versões 'originais'
À
SUA MULHER ANTES DE CASAR
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.
Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.
Observe-se que o poema de Gregório de Matos retoma a
idéia trabalhada no texto de Gongora. No entanto, faz dela um uso diferente.
Há ainda uma discrepância entre as diferentes edições da
obra de Gregório. Em relação à qual os estudiosos encontram desafios, por
vezes, insolúveis. Numa das edições o verso diz: “ o tempo trata a toda ligeireza” optei pela edição que diz “o tempo trota a toda a ligeireza” além da
coerência interna com “imprimir em toda flor sua pisada” há um ganho poético
pela prosopopéia.
É isso...
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