Estesia

Percepção sensação impressão expressão... Somos um pequeno grupo de amigos empenhados em reagir a alguns estímulos; a idéia é registrar uma reação como um flash despretensioso, registro provisório do que, provavelmente, não chegará a conhecer forma mais consistente ou duradora. Um amontoado de esboços que nunca verão arte-final.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um Olhar de Fora da Terra

Na última semana celebramos (ao menos alguns de nós) o 20° aniversário do telescópio espacial Hubble - o maior experimento científico realizado pelo homem.

Telescópio Espacial Hubble

Maior não por suas dimensões, que são menores que a do LHC - Large Hadron Colider-, por exemplo, com 27 km de extensão. A palavra nessa frase leva outras conotações: impressionante, belo, supreendente, inusitado, o inconcebível concebido, dentre outras. Como se as pessoas dissessem que a maior jogada do futebol foi o gol que Pelé não fez na copa de 70 (aquele do meio de campo, no vídeo abaixo).


O gol que Pelé não fez

Ao longo das últimas duas décadas, o Hubble vem nos mostrando um Universo novo, desconhecido e fascinante. Tão fascinante que até os mais céticos com relação à ciência (aqueles que acreditam que o homem nunca chegou na Lua) ficam encantados e impressionados com as belas imagens trazidas por ele.

A imagem abaixo, da Nebulosa de Carina, tornou-se uma das mais conhecidas da astronomia. Esse "berçário de estrelas" pode ser observado também com infravermelho (imagem da direita), onde somos capazes de perceber pontos extremamente brilhantes, que são estrela surgindo de seu "ventre" nebuloso

Nebulosa Carina visível a esq. e no infravermelho a dir.

O Hubble tem nos ajudado a identificar novos planetas (solares e extra-solares), encontrar novas galáxias, confirmar suspeitas que tínhamos quando usavamos apenas os telescópios terrestre, fotografou a colisão de um cometa com um planeta (Júpiter) - evento que estima-se ocorrer uma vez a cada mil anos-, ajudou a indentificar buracos negros, dentre outras coisas

É algo tão importante para os seres humanos, que o tratamos como uma pessoa – o Hubble. Se fosse em inglês, ele receberia o pronome pessoal “he” e não “it” como gramaticalmente correto. Nos afeiçoamos a ele e nos acostumamos com sua imagem.

Daqui a três anos, ele deve ser desativado, mas suas belas imagens permanecerão nos arquivos da ciência sendo analisadas e estudadas profundamente, ainda trazendo respostas para antigas quetões.Quando esse dia chegar, olharemos para o céu e lembraremos que boa parte do que conhecemos sobre o cosmos hoje, é resultado de um olho que observava um universo muito maior do que aquele que podemos enxergar. Sempre com um olhar de fora da Terra.

Campo Ultraprofundo do Hubble

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terça-feira, 27 de abril de 2010

da beleza e dos jardins




Não é bastante ver que um jardim é bonito sem ter
que acreditar também que há fadas escondidas nele?

A frase acima é de Douglas Adams (1952-2001), autor de The Hitchhiker's Guide to the Galaxy (o Guia do Mochileiro das Galáxias); originalmente um programa de rádio que depois virou série de livros e depois ainda virou filme. Mas, que sempre manteve seu charme de humor inteligente na boa e velha tradição inglesa. Fundindo no-sense e inteligência. Garantia de boas risadas. Abaixo, o cartaz do filme:




Conheci a frase de Douglas Adams, citada acima, quando da leitura do livro Deus um delírio, de Richard Dawkins. Altamente recomendável. A lembrança deste livro me sugeriu a imagem com que fecho este post. Trata-se de uma imagem de Ida. Provavelmente o fóssil mais famoso da atualidade. Certamente, o que tem despertado mais atenção da mídia, desde sua divulgação e motivado algumas interessantes controvérsias. De qualquer modo, parece que há algum consenso em relação à importância do fóssil. Sobretudo, em decorrência do fato de ter permanecido tão preservado (apesar de sua provável idade – cerca de 47 milhões de anos). Aproximadamente 95% do corpo, incluindo pele e pêlos, além de resquícios alimentares em seu estômago. Bem diferente de outros fósseis de idade avançada, dos quais se encontram apenas alguns poucos resquícios.



Gosto do acaso como Ida caiu num meio que a preservou tão intacta... como que preservada a aguardar nossos olhos perscrutadores que ainda estavam porvir e da maneira peculiar como sua pata-mão parece acenar para nós a desafia nosso olhar e a solicitar um pouco de nossa atenção.



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Questão de Linguagem

Melhor um pequeno post, que post algum, talvez seja, assim, o melhor jeito de não deixar o espaço em branco. Também é bom fingir que há leitores, ainda que não haja, que escrevo pra mim mesmo e mais uns poucos, e se a mim me custa me ler, quiçá, outro qualquer. Enfim...
Hoje conversava com um velho amigo e falávamos sobre os tempos velhos de militância. Em que muito aprendemos, sobretudo, que o melhor a fazer para manter a sanidade, seria manter-se afastado de toda e qualquer instituição, principalmente, quando esta se diz revolucionária, mas esquiva-se desse ideário, em qualquer dos sentidos que o termo possa absorver. Sim, porque não se percebe, e digo isso com muito pesar, na esquerda brasileira, que do mesmo modo que a burguesia sabiamente esvaziou o significado de alguns termos (democracia, liberdade, igualdade, justiça e etc.), aqui no Brasil, ao menos, fizemos algo muito parecido nos marcos da dita luta revolucionária.

Todo esse debate surgiu porque nesta semana, na TV, o PCdoB apresenta seu programa. Concisamente, a apresentação que pude assistir, traz como garoto propaganda um ex-presidente da UNE, agora cada vez mais gordo, que ora ocupa a cadeira gloriosa de ministro dos esportes, ironicamente, este ministro está cada vez mais gordo. Alguns esportes, por sua vez, cada vez mais magros. Após glorificar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que não sei se são feitos que um dito Partido Comunista devesse vangloriar, surge, em letras amarelas em um fundo vermelho, a inscrição: O partido do Socialismo. Hein?

Um dia este mesmo partido, sobre o mesmo fundo vermelho, com as mesmas letras amarelas dizia: O partido da Classe Operária. A mudança, que não é de hoje, indica uma espécie de conciliação ideológica. Classe Operária remete a idéia central do marxismo. Socialismo temos aos montes. Alguns até dizem que há socialismo na China, na Suécia, na Noruega. Há o socialismo cristão, o socialismo bolivariano, o socialismo utópico, o socialismo sebastianista de Jacinto de Tormes, o socialismo stalinista, o socialismo dos socialistas radicais e revolucionários da pátria anarquista. Em meio a tantos socialismos, tenho a impressão que o PCdoB aprendeu direitnho como tornar termos que dizem tanta, rapidamente terem seu sentido esvaziado.

Em tempo, dos tempos de militância, me lembro de algumas expressões que viravam lugar-comum na boca de uns e outros: um deles era "refluxo histórico", quando as coisas pareciam não ir tão bem. Enquanto no coletivo se tem refluxos históricos, eu, cá, na minha solidão, sofro sim de constantes refluxos estomocais.
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Serra, no programa do Datena, ao ser entrevistado, tentou fazer uma comparação futebolística citando o seu Palmeiras e Cleiton Xavier. Percebe-se no entanto que não basta ser doutor e se utilizar da Norma Culta em rede nacional para conseguir construir uma imagem que agrade ao eleitorado. É necessário saber do que se fala, ainda que no Português do Povão, para não cair no ridículo. Se a esquerda vai mal. A direita continua solidamente patética.




Ocultar tudo

domingo, 25 de abril de 2010

Com base em mote alheio

Jornal de alunos de farmácia da USP
pede para jogar fezes em gays
.
Em troca, jornal dá convite para festa brega em SP.
Defensoria acusa veículo de homofobia; autores não foram localizados.


A manchete acima, bem como seu subtítulo, é de uma matéria veiculada pelo site globo.com (Atualizado em 23/04/2010 22h50 / acessado em 25/04/2010 ao 12:00). Como ocorre usualmente, Pode ser que, neste caso, uma primeira leitura passe uma impressão enganosa do fato noticiado. Pois a tal primeira leitura associa ‘USP’ a ‘homofobia’. No entanto, numa releitura (mais cuidadosa e reflexiva), localizam-se alguns modalizadores restritivos: primeiramente ‘alunos’, posteriormente, ‘jornal’ e, por último, depreende-se que talvez o termo ‘alunos’ esteja substituindo de modo impreciso a indicação mais adequada e específica ‘aluno’ – no singular. O texto (homofóbico) ao qual o site globo.com faz referência de modo metonímico foi veiculado pelo jornal O Parasita (que, segundo esclarece o próprio site, é publicado por alguns estudantes Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP) e assinado com o pseudônimo Joãzinho Zé Ruela. Por se tratar de um texto que, além de desrespeitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, infringe a Lei Estadual 10.948, de 5 de novembro de 2001 (que dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual), torna-se de extrema importância apurar responsabilidades.
Segundo o site da Globo.com, a reitoria da USP informou que não vai se pronunciar sobre o caso e que somente a diretoria da faculdade de Farmácia poderia comentar o caso.
Eu, autor deste post, considero que quando a instituição decide não se pronunciar sobre um caso como este ela está se omitindo.
" Omissão - 1. Direito penal. Abstenção de um ato ou de cumprir um dever legaL; não-realização da conduta exigida por lei, sem a qual o resultado não teria ocorrido, gerando a responsabilidade criminal por ter sido a causa de um delito. 2. Teoria Geral do direito. Lacuna. 3. Direito civil: a) Aquilo que se omitiu; b) ato ou efeito de omitir, que, causando dano moral ou patrimonial, gera responsabilidade civil." - Fonte(s): Dicionário Jurídico, MARIA HELENA DINIZ, Editora Saraiva.
Quando o autor do texto publicado no jornal O Parasita (que além de criminoso é muito mal escrito) usa termos como ‘nós’ e ‘nosso’, ele tenta se colocar como porta-voz de um grupo (conferir em fragmento reproduzido abaixo, grifos meus):
Lançe-merdas e Brega será na Faixa - Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado.
A faculdade:
Procurada, a faculdade informou: "A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) não tem conhecimento nem apóia essa publicação, inclusive desconhece os seus autores. A Faculdade tomará as medidas jurídicas cabíveis para reprimir este tipo de publicação", em nota enviada por e-mail por sua assessoria de imprensa.

Os representantes ‘oficiais’ dos alunos: abaixo, um fragmento da nota oficial divulgada pela instituição oficial de representação estudantil repudia a opinião veiculado pelo autor do texto que incitou a violência contra homossexuais:
“São Paulo, 23 de abril de 2010.
NOTA OFICIAL
A Associação Atlética Acadêmica de Farmácia e Bioquímica, máxima entidade esportiva da Faculdade de Ciências Farmacêutica da Universidade de São Paulo (FCF – USP), vem à imprensa enfatizar que não está, de maneira alguma, vinculada à publicação independente intitulada “O Parasita” cujo conteúdo envergonha a todos os nossos representantes e associados. Sem ligação nem controle sobre o conteúdo da citada publicação, a Associação Atlética Acadêmica de Farmácia e Bioquímica afirma que é contra toda e qualquer forma de discriminação.”
Ver íntegra da nota em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/04/farmacia-da-usp-chama-gays-festa-brega-apos-jornal-hostiliza-los.html
Legal x legal
Sondados pela entrevista da TV, alguns alunos declaram que consideravam ‘o jornal O Parasita um jornal legal’. Parece-nos que este é o tipo do contexto em que se faz necessário diferenciar “legal” sentido coloquial ou informal; sinônimo de divertido ou displicente) de “legal” sentido denotativo que significa ‘justo perante a lei’. Não nos interessa aqui discutir porque para alguns parece engraçado uma manifestação preconceituosa ou discriminatória. Mas, sim, lembrar que tal prática é crime.
Abaixo reproduzimos o trecho inicial da lei supracitada:
Dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual e dá outras providências.
Art. 1o – Serão punidos, nos termos desta lei, toda e qualquer manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra qualquer cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.
Art. 2o – Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios aos direitos individuais e coletivos dos cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:
I – submeter o cidadão homossexual, bissexual ou transgênero a qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;
II – proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público;
(...)
Confira a íntegra da lei em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/39/Documentos/Lei+10.948.pdf

os redatores do jornal O Parasita

segundo o site globo.com, a última manifestação dos alunos responsáveis pelo jornal foi esta:

Os editores do jornal O Parasita, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, que incitou violência a homossexuais pede desculpas por "exagero cometido", mas permanecem anônimos. Polícia procura responsáveis pelo periódico acusado de incitar crime de homofobia.

O autor deste post, considera que a manutenção do anonimato, além de leviandade denota covardia. E aproveita para sugerir ao ‘responsável’ pelo texto homofóbico para se inspirar na coragem de tantos que tombaram em defesa do direito à diferença; em defesa da liberdade; e em protesto à intolerância, por vezes, disseminada por ignorantes e outros cretinos paladinos da violência irracional.
Portanto, Sr. Zé Ruela, saia do armário e defenda publicamente seus pontos de vista.

Este post é dedicado a liberdade e à coragem dos que protestam contra a intolerância.

Para ler sobre assunto afins, consulte os links abaixo:
http://www.mundomais.com.br/exibemateria2.php?idmateria=1192
http://acapa.virgula.uol.com.br/site/noticia.asp?todos=1&codigo=2686
http://pt.wikipedia.org/wiki/Harvey_Milk

autor do post Welli27