Estesia

Percepção sensação impressão expressão... Somos um pequeno grupo de amigos empenhados em reagir a alguns estímulos; a idéia é registrar uma reação como um flash despretensioso, registro provisório do que, provavelmente, não chegará a conhecer forma mais consistente ou duradora. Um amontoado de esboços que nunca verão arte-final.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

elegância discreta

Dormideira

(nome científico - Mimosa pudica)

A dormideira ou sensitiva é um pequeno arbusto perene da América tropical, pertencente à família das ervilhas.

Este nome é devido à forma como os folíolos das folhas se juntam quando ela é tocada ou exposta ao calor (sismonastia). Essa sensibilidade e movimento das folhas da planta também ocorrem em outras espécies dentro da família das ervilhas, tal como a Neptunia, ou em outras famílias, como o gênero Biophytum na família Oxalidaceae.




Segundo a etimologia informada por Houaiss, o termo mimosa se refere à interpretação de que a sismonastia/tigmonastia (resposta a um estímulo, como a que é provocada pela ação de um golpe ou de uma sacudidela) se parecia com uma pantomima (ou seja, uma aparente imitação da planta com a vida animal.

O termo pudica, por sua vez, significa casta; pura; tímida e recatada


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Da Educação do Ser Humano

Após semanas sem aparecer pelo blog, resolvi novamente postar algo que vem me incomodando faz tempo e que, de uma forma ou de outra, tem sido recorrente em nossos posts.
Nós, autores, temos sidos muito intolerantes.
Ora, percebam que estamos ficando indignados com comportamentos humanos completamente ordinários em nosso cotidiano.

O que tem demais se alguém fica falando no celular enquanto você pagou apenas cerca de vinte reais para assistir um filme no cinema? O que tem demais se as pessoas que querem passar por vc, no meio de um estádio de futebol, chegam te empurrando com um escudo? O que tem demais se os carros trafegam livremente pelas praias do litoral brasileiro e são estimuladas por publicidades super bonitinhas? O que tem demais se alguém passa ao seu lado no meio de um ambiente público com o celular no volume máximo ouvido Fresno, NxZero, Restart, ou qualquer "música" do tipo? O que tem demais se todas as vagas de deficientes físicos e idosos, em shoppings e lojas, forem ocupadas por jovens ou pessoas em perfitas condições de saúde? O que tem demais se, no meio de um ambiente de trabalho, dermos um saudável arroto? O que tem demais se o telefone celular tocar no meio de um seminário, palestra e afins? O que tem demais se usarmos a palavra "porra" no lugar de vírgula? O que tem demais se, ao comermos, jogarmos o lixo na rua, já que as prefeituras não providenciam lixeiras que ficam grudadas em nossos pulsos para que os lixeiros (nossos escravos) o recolham todo o final de tarde? O que tem demais se, ao ficarmos apertados para ir ao banheiro, pararmos no meio da rua e colocarmos nosso companheiro fiel para fora e mandar ver? O que tem demais em alguém guardar uma fila do supermercado com o carrinho e ficar na outra (sem nada nas mãos) só para ver qual anda mais rápido?

Estamos muito exigentes...onde já se viu algo assim!?
Como posso ainda ficar revoltado com essas coisas e encarar o dia-a-dia? Tenho uma proposta a qual creio que irá resolver todos nossos problemas. E quem quiser me acompanhar será muito benvindo.
VOU-ME EMBORA PRA PASSÁGARDA!!!

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sábado, 15 de maio de 2010

Mundo às avessas - parte 2

ou
da imbecilidade humana propagandeada em cores e com áudio meigo...



da ilusão na qual alguns insistem em acreditar:



da verdade que muitos preferem desconhecer:



Fotos que falam por si:



Agora,você pode voltar ao vídeo 1 e reparar que há um minúsculo logo no canto esquerdo da tela. Trata-se do selo do Ibama. Ele informa que o filme da propaganda foi feita com cuidados ambientais.
Que lindo! Que ecológico... quantas pessoas devem perceber este selo? e quantas pessoas devem compreendê-lo?
Será que o número dos que o compreendem é maior do que os que ficam com vontade de imitar o imbecil que dirige o carro na propaganda?




Suponho que após assistir aos vídeos acima, fica difícil acreditar na 'meiguice' dos peixinhos do vídeo abaixo:









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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ainda sobre o Corinthians

Visito regularmente alguns sites, blogs e páginas. Todas as quintas, assim que acordo, acesso a coluna do professor e lingusita Sirio Possenti, Docente da Universidade Estadual de Campinas, no portal Terra Magazine. Costumo visitar sua página porque seus textos são um alento a racionalidade moderada, pé no chão, baseada em argumentos, visito porque aprendo, tenho idéias e costumo me divertir. Além das constantes observações sobre a linguagem, o que mais me diverte é a fina ironia que escorre pelas estruturas de seus textos. Hoje, ele como Corinthiano, moderado, quebrando o estereótipo de que o Corinthiano obrigatoriamente é fanático e chato, escreveu algo que penso desde que li Freud a primeira vez, e que costuma comentar com alguns amigos. Como o texto sintetiza várias de minhas opiniões e explica muita coisa sobre o futebol, pedi autorização a ele e publico abaixo o fragmento de sua última coluna "Todos são contra o Corinthians porque queriam ser a favor":

Todos contra e felizes

No dia seguinte à eliminação do Corinthians, pipocaram e-mails com materiais humorísticos. Todos se divertindo com a derrota do projeto de timão. Houve belas sacadas. Mas também muita grosseria, já que o estereótipo do corintiano é o pobre e/ou bandido. Aliás, o fato deve ser motivo de reflexão dos sociólogos (na verdade, já foi). Há uma sequência fortemente ideológica nos estereótipos: o time de massa passa a ser time de pobre, o time de pobre passa a time de bandido (assim como o São Paulo passa de time de rico a time de gente fina (basta ver as falas do presidente sobre o perfil de seu técnico), e de time de bacanas a time de "bambis".

O interessante, no caso do Corinthians, é que os torcedores de todos os outros times se divertem com seu fracasso. Nada semelhante acontece quando quem perde é o Palmeiras ou o São Paulo.

Acho que Freud explica. Ocorrem fenômenos semelhantes na política. O partido mais criticado é o partido do qual se acabou de sair (aquele no qual se gostaria de ter ficado?). Foi abandonado ou porque não se conseguiu espaço para uma candidatura ou porque não foi mais possível exercer nele um papel ideológico relevante. Esse partido torna-se uma espécie de Outro, e esse Outro é o que o Eu não pode ser, mas gostaria de ser, se não fosse o que é.

Acho que o que acontece se deve ao fato de que todos os torcedores dos ouros times, se não torcessem por eles, torceriam pelo Corinthians.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Lista dos seres, invisíveis a olho nu, nos quais acredito:

Vírus

Ácaro

Átomo

Mais-valia

Bom senso

Putz... acho melhor riscar este último.

Primeiro microscópio - Século XVIII

Microscópio de tunelamento - Gerd Binnig (1947-) e

Heinrich Rohrer (1933-)

O microscópio eletrônico cria uma espécie de "mapa topográfico" da molécula. A visualização direta, por meios ópticos,

é impraticável porque a molécula é muito menor do que o comprimento de onda da luz visível. [Imagem: IBM Research - Zurich]

imagens disponíveis em: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=molecula-individual-fotografada&id=010165090828



quinta-feira, 6 de maio de 2010

Na vitória e na derrota, sobretudo na derrota...

Meu primeiro post neste blog fazia uma crítica ao excesso de Deus nas canchas brasileiras. Brincava com a impossibilidade CORINTHIANA de vencer a Libertadores. Brincava mais com a obsessão, que a imprensa ajuda a criar, em torno de um mero título. Pois bem, com ou sem deus, perdemos mais uma vez, em casa, fazendo chorar velhos e crianças, homens humildes e empresários renomados. São Paulo, que deveria se chamar Corinthians (Juca Kfouri), pra fazer jus ao que a cidade representa ao clube, e o clube à cidade, dormiu, silenciosa, em meio a rojões xabuzados e umas poucas vitrines quebradas.

Resolvi, numa quinta-feira de 2006, após sair com o cotovelo trincado do Pacaembu, que não voltaria num jogo de Libertadores. Não por medo da violência, porque nesses dezessete anos que frequento estádio, assisti a diferentes níveis de violência e passei, mais ou menos, ileso por todas elas. Havia decidido que não mais estaria presente em Libertadores. Vi o Corinthians, de um time fantástico, cair no Morumbi, para um Palmeiras fraco e sem graça, depois de dois jogos eletrizantes. As cenas que não me saem da memória desse confronto é menos o penalti perdido por Marcelinho, porque confesso que fiquei de costas, ajoelhado, em tempo em que me ocupava em ser supersticioso. O que me ficou na retina, foi uma hora após o término da partida, ver a polícia tentando arrumar um jeito, no Morumbi em penumbra, de botar pra fora uns cinco mil corinthianos, que se recusavam a aacreditar no que viam, deitados nas arquibancadas, caídos como defuntos. Mortos em vida.

Em 2003, no mesmo palco, contra o River, vi infantilidades em campo, nenhuma fora, mas mais uma vez derrota e sons de sapatos marchando, atrapalhando o silêncio de uma noite fria. Foi em 2006, contra o mesmo adversário argentino, que tive a maior tristeza da minha vida num campo de futebol. Menos pelo jogo, mais pelo que antecedeu a partida. Uma polícia despreparada, amedrontada, conivente com cambismos de toda parte, incapaz de controlar um público. Dirigentes obscuros, mafiosos, contratando jogadores mercenários. Um clube gigantesco, se apequenando, sendo engolido por meia dúzia de velhos caquéticos e mesquinhos, que vendiam a traficantes internacionais um símbolo de luta e de esperança para tanta gente. Vi uma torcida, que atônita, só podia reagir de uma maneira: invadindo o campo e avisando que aquela brincadeira chamada futebol era mais séria do que parecia. Melhor que tivessem cuidado. No ano seguinte, essa mesa torcida, desta vez usando a razão foi responsável pela queda e indiciamento do maior ladrão da história do futebol paulista: Alberto Dualib.

Mas ontem, peguei minha bandeira, pus nas costas, chamei meu pai e um amigo e renasci no Pacaembu. Relato aqui, a partir de agora, a noite, mais uma de tantas que se foram e de muitas que virão.

Fato é que descendo as ladeiras da Av. Angélica no sentido do Pacaembu, cruzamos com o ônibus da delegação corinthiana. Meu pai, Corinthiano, dos tempos em que a equipe não vencia sequer um confronto com a equipe do Santos, temido de Pelé, ou que passou 23 anos, sofridos e doídos sem vencer um título sequer entre 1954 e 1977 (como conta um brilhante documentário, com belíssimas imagens lançado no fim do ano passado - 23 anos em 7 segundos, que recomendo aos amantes de futebol), meu pai, pouco afeito a arroubos sentimentais, em se tratando de um time que já o fizera tanto sofrer, gritava e pulava como criança, tentando fazer o seu celular, sabe-se lá como, funcionar e captar alguma imagem daquele momento. Ele, se não segurado por mim, quase jogou o equipamento no chão, repetindo que não se conformava em nesses momentos, essas PORRAS não funcionarem. Eu, que prefiro guardar certas cenas na memória, tentei argumentar nesse sentido, mas para um homem de 53 anos, o quanto já não se perdeu entre tantos eventos, mais ou menos emocionantes. Entendi meu velho e decidi seguir, dando risada com ele, e falando sobre o peso do Ronaldo.

Virando a esquina e já podia sentir o clima, confesso que sou um pouco como meu pai. Já sofri tanto quando criança, já fui em tantos em tantos jogos, já fui e já não sou de organizada, que não confio, antes do fim dos 90 minutos. Mas é chegar no Pacaembu. Chegar no Pacaembu e ver 50 mil pessoas naquela praça, muda a cabeça de qualquer um e tive a certeza: hoje vai na marra.

Chegamos e entramos e sentamos. Nem tão perto das organizadas para evitarmos possíveis problemas, nem tão longe que não nos uníssemos com elas cantando. Meu amigo, Bruno, velho companheiro de tristezas e alegrias, das mais variadas, chegou depois de uma ou duas cervejas e seu já conhecido chugato. A torcida se posicionou. As baterias das organizadas se somavam e o pacaembu parecia que explodiria. Meu pai sentado, no último anel do setor amarelo, apenas aguardava, controlando e não deixando transparecer sua ansiedade, a entrada das equipes em campo.

Os pelos de meu braço e de minha perna estavam arrepiados. Desde garoto não sentia a torcida do Corinthians me arrepiar como ontem. Um barulho estrondoso, bandeiras tremulando sem amstros, fumaça, mas muita batucada, muitas vezes, e senhores, meu próprio pai, todos estavam unidos cantando quase que sem parar, parecendo membros recém chegados aos Gaviões da Fiel. Não existia torcida A ou B, existia apenas a torcida do Corinthians. Ali tive a certeza, não tem como dentro de campo não sentirem o peso dessa torcida. E o primeiro tempo foi prova disse, duas falhas da defesa do Flamengo, dois gols. O grito saiu do peito, as cordas vocais estouraram, minha sinusite destruia meu cérebro, eu pensava em um milhão de coisas, abraçava meu pai, o amigo, e umas 30 pessoas, entre homens, mulheres e crianças que nunca saberei o nome, mas eram, com certeza, parte de minha família.

Veio o intervalo, a polícia decidiu, após um pequeno incidente na parte de baixo, bater com o escudo nos meus calcanhares e nas minhas costas, ocupando "estrategicamente" o lugar que estava fazendo o Corinthians ganhar. Porque se o Corinthiano for religioso, não rezará pra Deus. Reza à São Jorge. Se for ateu, como no meu caso, ao menos em 120 minutos acredita em alguma coisa, reza ao mesmo São Jorge, acende vela e se faz parecer o maior crente do mundo. Foi nesse momento, em que a briga veio pro meu lado, sem eu ter feito nada, ao contrário, ter escolhido o lugar para fugir a tumultos que pensei: tem coisa errada. Foi trocar o lugar e o Flamengo empatar, foi abaixar a cabeça e ter a certeza ali, que mais uma vez estaríamos eliminados. Pela primeira vez em anos sentei na arquibancada. Ao lado do meu pai. Vi tudo sentado. O time lutou, jogou o que podia, a torcida continuou a cantar até o final, mas eu não tinha forças. Só conseguia reagir quando acabou os 90 minutos e pude soltar do peito um Corinthiano maloqueiro e Sofredor, graças a Deus! Ainda que pra mim, seja mais graças aos nossos genes, que a criação divina.

Sou um romântico, gosto de causas perdidas. Gosto de sofrer, mas acho sinceramente que a polícia fez o Corinthians perder. Ao menos pra mim. Foi quando tomei uma escudada nas costas que entendi que tinha coisa errada e pensei em proteger meu pai de um eventual tumulto. Foi ali, que minha tristeza se abateu e a noite terminou. Homens fardados, amedrontados e acuados, mais uma vez querendo aparecer e se colocar no lugar de coitados. Felizmente, desta vez, até pelo clima do clube, da própria torcida, tudo acabou em paz e em aplausos, e pequenas cobranças válidas e justas por quem paga ingresso e tem o direito de protestar contra o que, ou quem bem entender.

O que mais valeu foi poder meu pai criança, eu adulto, o protegendo. Valeu ver que o tempo passa, mas tem alguns laços de amizade, como com meu pai, com Bruno, que se fortalecem nessas horas. Parece que os altos e baixos emcoionais de um jgo como esse, afeta quem cada um no seu aspecto mais íntimo e secreto. Parece que as paixões, que regem a vida, desabrocham novamente, em todas as suas feições. E se laços de velhas amizades se fortalecem, outros nascem, como do rapaz de 36 anos, que chorava como criança e fui consolá-lo. Dizer que era assim mesmo. Ele não me olhou. Quando ia embora, ele já refeito, me deu um abraço e falou: "Irmão, até quando vai isso na minha vida? Esse sofrimento?". Falei meia dúzia de coisas desconexas, ele continuou chorando, dizendo que desde 91 via o sofrimento na Libertadores, que não aguentava mais. Eu disse... Não sei o que disse, apenas o abracei e não tive o tempo de perguntar seu nome. Mais sei que ele se lembrará de mim, porque não me esquecerei dele. Um daqueles tantos amigos que a gente faz em 90 minutos, e que ficam com a gente em 90 minutos futuros. Mesmo sem nome, hoje mais calmo posso responder-lhe: Meu velho, seu sofrimento nunca acabará, com 90 anos, estaremos lá, com ou sem Libertadores, sofrendo com nosso Corinthians. Não seria boa a vida de outro jeito. Deixe estar, é assim que sabemos ser. É assim que queremos ser. So quem é. Só quem é entende que ganhar ou perder não faz diferença, o que tempera nossas vidas é o sabor de ser Corinthiano, com todo o peso intraduzível que esse adjetivo carrega.

Pai, Bruno, família Corinthiana. Jogamos contra o Brasil, contra a PM, contra o destino. Jogamos contra a essência que move a existência do universo. Nós somos Corinthians. O resto, com todo respeito, que realmente tenho, precisam de títulos pra se sentirem fortes. Nós precisamos apenas de 90 minutos. Na vitória ou na derrota eu grito forte, Corinthiano eu serei até a morte! Vai, Corinthians...

domingo, 2 de maio de 2010

Salve o E. C. Santo André - Ramalhão

Este post é a minha humilde homenagem ao Santo André, campeão moral, - que foi roubado pelo Sálvio Spínola
ao Santos, parabéns pelo Campeonato. Mas, hoje, o Santo André foi melhor - em todos os quesitos.

sábado, 1 de maio de 2010

Mundo às avessas

Ontem, fui assistir Alice in Wonderland, 2010, de Tim Burton. Mas, não foi para dizer que o filme é ótimo; e que a parceria Burton-Depp continua perfeita; e que a Mia Wasikowska realiza uma Alice lindamente fria e distante e incomodamente autosuficiente. Resolvi postar para desabafar sobre outro incômodo. Causado pelo comportamento de boa parte da platéia que não sabe para que serve o cinema. Houve um tempo em que o apagar das luzes era um recado claro o suficiente para as pessoas se prepararem para o início do espetáculo (basicamente, para calarem a boca; abrirem os olhos e começarem a prestar atenção). O que pude perceber, na sessão de ontem, foi o nível a que a tosquice pública chegou. Primeiramente, fiquei espantado com alguns adolescentes que estavam tirando fotos com um celular (com flash). Como estavam na mesma fileira que eu, tive de suportar os brilhos que destoavam de maneira desagradabilíssima da solene escuridão da sala. Depois, tive que, por pelo menos duas vezes, explicar para algumas pessoas na fila da frente que não se deve conversar durante um filme.

Socorro! Acho que vou pular na toca do coelho.

Talvez o problema seja comigo. Talvez eu deva assistir aos filmes num home theater sozinho em casa. Talvez devesse viver numa época em que as pessoas, antes de entrarem num teatro, deixavam seus chapéus em escaninhos porque seria indelicado continuar usando-os dentro do teatro. Sonho com um cinema no qual seja proibido entrar portando aparelhos celulares. Enquanto eu pensava isso (um pouco antes do filme, efetivamente, começar) fui surpreendido pela capacidade que tem a realidade de surpreender e de superar sua própria cretinice. A propaganda veiculada pelo cinema dizia ipsis uerbis:

– agora você já pode receber onde quer que você esteja as notícias do Brasil e do Mundo diretamente no seu celular – daí seguia uma longa série de informações e imagens pretensamente importantes do tipo que abarrotam programas cretinos de TV e revistas de fofoca bem ao gosto da mediocridade predominante entre os consumidores privados de raciocínio: fotos de jogadores de futebol e de atrizes globais; referências a programas imbecis como realities shows e afins – enfim, um inventário do bestiário

Permaneceria a eternidade xingando lixos deste quilate. Mas, há coisas mais úteis a fazer. Portanto, seguirei o conselho de Gracián, segundo quem, é melhor o intenso que o extenso

E termino lembrando A igreja do Diabo, do bom e velho Machado, que menciona que há regras que parecem terem sido feitas para serem quebradas...

Continuo noutro post

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