Mundo às avessas
Ontem, fui assistir Alice in Wonderland, 2010, de Tim Burton. Mas, não foi para dizer que o filme é ótimo; e que a parceria Burton-Depp continua perfeita; e que a Mia Wasikowska realiza uma Alice lindamente fria e distante e incomodamente autosuficiente. Resolvi postar para desabafar sobre outro incômodo. Causado pelo comportamento de boa parte da platéia que não sabe para que serve o cinema. Houve um tempo em que o apagar das luzes era um recado claro o suficiente para as pessoas se prepararem para o início do espetáculo (basicamente, para calarem a boca; abrirem os olhos e começarem a prestar atenção). O que pude perceber, na sessão de ontem, foi o nível a que a tosquice pública chegou. Primeiramente, fiquei espantado com alguns adolescentes que estavam tirando fotos com um celular (com flash). Como estavam na mesma fileira que eu, tive de suportar os brilhos que destoavam de maneira desagradabilíssima da solene escuridão da sala. Depois, tive que, por pelo menos duas vezes, explicar para algumas pessoas na fila da frente que não se deve conversar durante um filme.
Socorro! Acho que vou pular na toca do coelho.
Talvez o problema seja comigo. Talvez eu deva assistir aos filmes num home theater sozinho em casa. Talvez devesse viver numa época em que as pessoas, antes de entrarem num teatro, deixavam seus chapéus em escaninhos porque seria indelicado continuar usando-os dentro do teatro. Sonho com um cinema no qual seja proibido entrar portando aparelhos celulares. Enquanto eu pensava isso (um pouco antes do filme, efetivamente, começar) fui surpreendido pela capacidade que tem a realidade de surpreender e de superar sua própria cretinice. A propaganda veiculada pelo cinema dizia ipsis uerbis:
– agora você já pode receber onde quer que você esteja as notícias do Brasil e do Mundo diretamente no seu celular – daí seguia uma longa série de informações e imagens pretensamente importantes do tipo que abarrotam programas cretinos de TV e revistas de fofoca bem ao gosto da mediocridade predominante entre os consumidores privados de raciocínio: fotos de jogadores de futebol e de atrizes globais; referências a programas imbecis como realities shows e afins – enfim, um inventário do bestiário
Permaneceria a eternidade xingando lixos deste quilate. Mas, há coisas mais úteis a fazer. Portanto, seguirei o conselho de Gracián, segundo quem, é melhor o intenso que o extenso
E termino lembrando A igreja do Diabo, do bom e velho Machado, que menciona que há regras que parecem terem sido feitas para serem quebradas...
Continuo noutro post
Marcadores: Alice, civilidade, educação, misantropia, sociabilidade
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