Estesia

Percepção sensação impressão expressão... Somos um pequeno grupo de amigos empenhados em reagir a alguns estímulos; a idéia é registrar uma reação como um flash despretensioso, registro provisório do que, provavelmente, não chegará a conhecer forma mais consistente ou duradora. Um amontoado de esboços que nunca verão arte-final.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Inclusão digital?

Sei que prometi escrever sobre os Racionais e guarda lá, em breve, retomo a temática. Sucintamente, por ora, me atenho a um tema que me incomodou na última semana. A tal inclusão digital defendida por gente da esquerda e a direita soa como uma espécie de evolução sócio-política nas práticas sociais contemporâneas. Políticos, candidatos e blogueiros das mais variadas espécies tem defendido o tema, e incluem a tal Inclusão em todas as plataformas de campanha.

Uma amiga, que agora coordena um blog ligado a um grupo de jovens de esquerda, escreveu um texto em que se utilizava do tema. Falava da importância do aprofundamento das políticas de Inclusão Digital. Ora, as vezes penso que falta um pouco de preparo, amadurecimento mesmo, quando se trata do tema. Incluir no mundo digital, na maioria das vezes, é tido como um processo homogêneo em que basta fazer um dos cursos oferecidos pelos governos nas diferentes esferas, em salas precárias da periferia, normalmente com isntrutores mal pagas e mal preparados ou então, comprar um computador a preços populares para se concretizar a tal Inclusão Digital.

Penso no termo Inclusão e não me sai da cabeça alguns textos que li nessa longa e interminável vida acadêmica em que discutimos os conceitos Inclusão-Exclusão. Parece que estar incluído é algo simples. Não é, mostro. A idéia de exclusão não pode ser considerada em seu sentido absoluto, porque nas sociedades modernas tardias, como no caso do Brasil, não existem grupos completamente excluídos. Parte-se do pressuposto, equivocado, de que existe um lugar (não empírico, mas abstrato) onde haja a tal inclusão. Ou seja, a cultura hegemônica, burguesa, capitalista, tecnológica é o lugar da inclusão, todos os que estão fora, devem adentrar a este espaço.

É o mesmo equívoco que se tem quando se pensa as questões de alafabetismo (ou mais conceitualmente, de letramento). Parte-se de uma noção de língua una, de que o acesso a escrita é necessário e por consequência obrigatório a todas as comunidades, sejam elas de que tipo forem. Considera-se que a apropriação da linguagem é evolutiva, homogênea, que se parte do mais simples ao mais complexo, e o objetivo, o ideal, é atingir o nível mais alto. Não se considera que há populações e comunidades que precisam da escrita de modo parcial, ou então, que precisam ser consideradas no seu modelo linguístico. A consequência é que acreditamos, como educadores, estarmos fazendo uma boa-ação ao incluir um indígena no nosso modelo linguístico e por conseguinte cultural, social e político. Acredita-se que a níveis evolutivos lineares. Absorve-se e se engole a cultura do outro, que se apropria da nossa e com isso vive melhor.

As políticas de "Inclusão" vão nesse sentido. Como se o Brasil fosse uno, um único. Soluções? Dar voz e ouvidos a pessoas que estudam seriamente as temáticas de Letramento e Letramento Digital, que hoje estão a margem de discussões mais sérias, enfurnados nas Academias pelo Brasil. Cito para os que se interessarem a tese de doutorado de Marcelo Buzzato, orientado pela excelente professora Dénise Bertoli Braga da Unicamp, Entre a fronteira e a periferia, linguagem e letramento na inclusão digital. Vale a pena ler, o texto é acessível, tragável, muito bem escrito e altamente reflexivo. Não dá pra pensar da mesma maneira sobre a tal "Inclusão" depois de lê-lo. Afinal, como diz o autor em dado trecho, não são poucas as pessoas que se "incluem" por obrigações coorporativas ou na maioria dos casos criam uma aversão tremendo pelas novas tecnologias, desejando serem "incluídos fora dessa".

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