O time do Povo chegou...
Hoje não foi um dia como os outros, dormi ansioso, acordei com um sentimento terno, de agradecimento, apaixonado pela vida, minha mente invadindo lugares e situações que achava já ter esquecido. Cheguei ao trabalho e vi as camisetas, que em preto e branco, desfilavam na minha frente... Como esquecer, como não lembrar, como deixar de exaltar. Há 100 anos era fundado o S.C. Corinthians Paulista, por operários e trabalhadores médio, da que hoje é a maior metrópole da América Latina. Num tempo em que o futebol era um esporte de meia dúzia de ricos, o povo se apropriava dos campos paulistas com suas camisetas beges, os calções pretos e os meiões brancos. Jogando em gramados lamaçentos, com bolas que pesavam mais de dois quilos (três as vezes) em dias de chuva. Com arquibancadas de madeira e iluminações de lampião.
E foi sob a luz de lampião que estes homens ergueram o Corinthians, Timão para os mais íntimos, Poderoso Timão para os mais místicos, o time do povo. Estes homens devem ser lembrados e eternizados na história da humanidade, responsáveis pelos primeiros jogos, em tempos ainda da Várzea dos rios. São eles: os pintores de casa Joaquim Ambrósio, Antônio Pereira e César Nunes; o sapateiro Rafael Perrone; o motorista Anselmo Correia; o fundidor Alexandre Magnani, o macarroneiro Salvador Lopomo, o trabalhador braçal João da Silva e o alfaiate Antônio Nunes. Não se pode esquecer também, do financiador e primeiro presidente disso tudo: Miguel Bataglia, alfaiate de renome, que financeiramente apoiou a empreitada dos primeiros loucos do bando.
Bataglia, que assumido o cargo, proferira a máxima, uma previsão, quase que uma averiguação científica do genoma corinthiano: "O Corinthians é o time do povo, e é o povo quem vai fazer este time". Dos anos primeiros aos anos em que me encontrei com o manto sagrado, no final da década de 80, o Corinthians já tinha muita história que o ligava ao povo, ao operariado, aos humildes e excluídos, à favela, à cadeia e também às elites, que povo que é povo, aceita todo mundo por igual e sem preconceitos.
Em 100 anos de história, o time do povo justificou seu apelido. Das camisas beges, que de tanto lavar viravam brancas e assim ficaram. Da escolha do nome, a anedota verdadeira, que identifica nossa origem: o nome do time inglês a quem os operários homenageavam era Corinthian. Os jornais o chamavam de Corinthian's team, e o s era indicativo de que esse Corinthian, na verdade, representaria tanta gente, que deveria carregar um plural, e assim ficou.
As histórias são tantas que se fundem às histórias do povo. Dos ídolos Neco e Amílcar, artilheiros nas décadas de 20, 30. De Cláudio, Luizinho e Baltazar, figuras das décadas de 40, 50. Da contratação do Mané Garrincha em 60. Dos anos de fila e o gol de Basílio em 77. Povo que operariava o Brasil nas semanas, e sofria com o Corinthians aos domingos e sábados. Que se o time perdesse no domingo ou as quintas, trabalhava mal na segunda, na sexta. Não produzia.
De cada ídolo que servia como espelho da Torcida Fiel nas arquibancadas, que lutava contra a ditadura interna e a militar. Que invadia o Maracanã e fazia Nelson Rodrigues, sentir-se, em suas palavras, um extrangeiro em sua própria terra. O escritor, tricolor das laranjeiras, não entendia como 70 mil pessoas, abandonavam suas vidas, viajavam 600 quilômetros para calar a torcida, dona da casa e do estado. Torcida que repetiu o feito, não uma, não duas, mas inúmeras vezes.
Da democracia, que era corinthiana e brasileira. De Sócrates que por um dia, fez-se líder das massas tão abandonadas de líderes na década de 80 e cunhou a máxima: Eu fico. Não se vendeu ao estrangeiro, jogou bola e lutou contra a ditadura no Brasil, com as diretas já. Diz-se que D. Pedro I, imitando o ilustre Corinthiano, reproduziria anos mais tarde tal feito e diria ao povo que também ficaria. Parece que até a barba que usou, foi inspirada no Doutor. Dizem, porque essa imprensa são paulina inverte tudo, gosta de mentir e rebaixar os feitos do Corinthians.
Corinthiano que é Corinthiano, adora uma mentira. Como o brasileiro, que adora pescar peixes impossíveis e conquistar mulheres lindas e maravilhosas, que nunca sequer dera um beijo. Não somos 30 milhões, somos 180 milhões. Não temos 100 anos. Temos 510. Nos confundimos com outra nação, esta menor e menos improtante é verdade: O Brasil. Dos brasileiros, somos os mais. Lula, ex-presidente do Corinthians, depois de uma série de 20 anos de títulos a parte, resolveu ajudar outra república e venceu a eleição de 2002. Agora cansado das críticas, quer voltar. Voltar a maior das nações. Voltar ao Corinthians.
Em verdades e meias verdades, já não sei mais, me lembrei de meu pai. Que pela primeira vez me ensinara um palavrão. Preso ao alambrado, erroneamente verde do Pacaembu, mandara-me xingar o bandeirinha. Xinguei e aprendi com ele, que ser Corinthiano, era ser sofredor, mas era ser acima de tudo um pouco mais brasileiro. Corinthians, do meu coração. Corinthians das minhas tristezas, escondido na laje de casa, com medo de mais uma derrota. Meu pai que me consolava. Meu pai que, hoje, levo ao estádio. Meu pai, amigo pai, que me ensinou, assim intransitivamente.
Corinthians que se confunde a figuras de amadas. Corinthians que supera as paixões. Corinthians que me fez chorar, uma, duas, mil vezes no dia de hoje. Corinthians, que me faz divagar e nem saber o começo ou final do texto. Corinthians dos gritos de guerra. Corinthians dos gritos de gol de paz. Corinthians dos amigos feitos nos gols. Corinthians de amigos menos fugídios, mas nem por isso mais improtantes que os passageiros. Corinthians das milhões de faces. Corinthians de cada arquibancada que fui e Corinthians do meu meião da sorte nos dias de pelada com os amigos. Corinthians das cidras, Corinthians dos Drehers e dos lanches de claabreza na porta do Pacaembu. Corinthians que já odiei. Que amor que é assim, que a gente odeio na tristeza, mas como alguém submisso e inferior a tudo que representa, me fortalece e volto. Sempre pedindo desculpas pelas horas que te xingo, irado com o gol que não entra.
Corinthians da Zona leste. Corinthians do ABC. Corinthians do Interior. Corinthians da série B, ah! meu Corinthians, quantas alegrias e tristezas confundidas. Corinthians do Mundial. Corinthians sem libertadores, que pouco importa, mas muito importa.
Queria poder dizer tanta coisa. Corinthians que me faz rezar a deus e a São Jorge. Eu, ateu, que sou... Corinthians das promessas não cumpridas. Corinthians. Ah, Corinthians, como és grande em minha vida.
Queria dizer tanto mais, queria que fosse um post, como um gol. Mas não sou capaz de revelar com a mesma delicadeza e fúria apaixonada, o que sinto por te ter.
Queria agradecer a cada Corinthiano que vi nos campos: Tupãzinho nosso amuleto; Dinei do povo; o nosso xodó Neto; Fabinho das camisas ensaguentadas; RonaaaaaaaaaaaaaldôôÔ, das defesas incríveis; ê ê ê ô o Viola é um terrô; Elivélton e seu gol fantástico; Marcelinho spit fire, que de anjo não tem nem o pé; Edilson, Vampeta, Rincón; ao traíra do Ricardinho; Luizão; Edu; Carlitos; Gil; Mano Menezes e Parreira; Eduardo Amorim e Oswaldo Oliveira; Ronaldo Gordo, que teve que ganhar peso para aguentar a pressão em suas costas; todos os outros que esqueci.
Os que não vi. Luisnho, o polegar que sentava na bola e zombava dos porco; Claúdio; Amílcar, baltazar; Neco e Teleco; Domingos da Guia e Gilmar; Dino Sani; Rivelino; Zé Maria e Wladmir; Sócrates, Casagrande, Biro-Biro, melhor que Maradona; Zenon... Todos os outros que esqueci e não sei o nome...
Aos Corinthianos das arquibancadas, a esta nação. Sofredora, maloqueira, graças a deus.
Queria poder dizer tanto. Mas a razão falta... Fica o registro!
"Tu és religião de janeiro a janeiro, ser Corinthiano é ir além de ser ou não ser o primeiro; ser Corinthiano, é ser também, um pouco mais brasileiro" (Toquinho)
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